A abordagem que normalmente se faz do comunismo passa pela leitura das obras dos grandes teóricos ou pela dos seus vulgarizados. Quando do plano das ideias se passa à concretização prática já realizada, corre-se normalmente o risco de ou concluir que as visões dos profetas do movimento não passavam de utopias, ou de justificar o desfasamento entre a arquitectura dos teóricos e a realidade das construções concretas pela fatalidade dos condicionalismos que terão estado na origem dos «desvios». Em ambas as hipóteses, as experiências comunistas são julgadas em nome do comunismo.
 O que Gilles Martinet se propõe fazer neste livro, de que damos a lume uma nova edição, é inverter a ordem dos factores, interrogando-se sobre o comunismo através da análise concreta dos comunismos existentes. A experiência soviética, que continua a construir um modelo para a maior parte dos países comunistas, as quatro grandes variantes - a jugoslava da «auto-gestão», a checoslovaca da «Primavera de Praga» de 1968, a chinesa da «revolução cultural» e a cubana da tentativa de eliminação das «relações de mercado» - são aqui confrontadas com uma lucidez invulgar, permitindo assim uma abordagem verdadeiramente nova de um dos fenómenos sociopolíticos de mais marcada relevância no nosso tempo.