José Emilio Pacheco
Que um poeta como José Emilio Pacheco morra após bater com a cabeça parece quase prometido. Nado, (mal)criado e finado na Cidade do México (1939-2014), em “sentido contrário” escreveu contusa, repetidamente, uma e outra vez batendo com a cabeça contra um maciço de ruínas: o México, pois claro, mas sempre como súmula da continuada história dos massacres humanos, sinédoque da “fossa comum” do mundo todo, prenúncio de um presente (ainda mais?) bruto, se continuamos, afinal, diz-nos repetidas vezes a sua poesia, “a viver o tempo dos assassinos”.»
Nascido na Cidade do México a 30 de Junho de 1939, foi em casa que José Emilio Pacheco entrou no mundo das letras; primeiro como ávido leitor de Júlio Verne, Oscar Wilde, Jorge Luis Borges, mas também com as tertúlias que os pais aí promoviam e por onde passaram Juan José Arreola, José Vasconcelos ou Martín Luis Guzmán, entre outros.
Mais tarde, a curta passagem no curso de Direito da Universidade Nacional Autónoma do México serviu-lhe para dar início à sua vida literária, começando a publicar em revistas estudantis, e, durante a década de 1960, estendeu a sua actividade, colaborando com diversas publicações, e traduzindo nomes maiores da língua inglesa: Samuel Beckett, Walter Benjamin, Oscar Wilde, T. S. Elliot, Walt Whitman, Hemingway, Faulkner… Por fim, viria a dar aulas em universidades do México, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.
O escritor José Emilio Pacheco tocou todos os géneros: conto, romance, ensaio, crítica… mas, «pesem embora os manuais escolares, era aqueloutra vida foragida dessa pequenina e mortal biografia dos costumes, do pó de biblioteca, a respiração assistida da poesia relida e reescrita, parida e repartida, sempre em transe de ser outra coisa, a única que lhe interessava.»
José Emilio Pacheco é um dos escritores mais importantes da literatura mexicana do século XX. Sendo um dos mais galardoados, é também, sem dúvida, um dos mais modestos. «Com efeito, o “grande poeta mexicano”, o pluripremiado que só em 2009 fez inaudita dobradinha arrematando o Reina Sofía e o Cervantes, costumava dizer com facécia que não era sequer o melhor escritor do seu bairro. O título, esse, deixava-o ao vizinho Juan Gelman, amigo mui estimado a quem dedicou o seu último texto, um artigo para uma revista que, chamando-se ela Proceso e sendo ele póstumo, se fez o belo corolário de toda uma poesia.