A quarenta quilómetros de Coimbra há uma pequena aldeia de cor verde, rodeada das serras do Rabadão e do Carvalhal, de matas e pinhais, onde o sol é dourado e com riscas de ternura. As folhas das árvores são tenras e luminosas, os frutos caem quando lhes pedem por favor e a crosta de folhas secas forma um tapete de sonhos que se descobre com as chuvas do Outono.» «Na aldeia de Algodão de Cima respira-se um ar fresco, puro, que circula nos pulmões como o vento que passa entre as árvores a cantar em lá menor. O rio Ceira cruza a aldeia, correndo debaixo da ponte manuelina sem demora. As cigarras assobiam todas as noites de Verão, enquanto o regato se esconde por entre as pedras e as cantigas das lavadeiras.

Alice tem 11 anos e uma cara branca assinalada. Os seus olhos rasgados parecem duas azeitonas verde-escuras e tem um nariz pequeno como uma carochinha sabichona. Os seus rolos cor de mel no cabelo são autênticas flautas compridas que parecem iô-iôs subindo e descendo. Pés para dentro, pernas e braços marcados pelas nódoas negras de tanto saltar que não se podem esconder por debaixo da saia de bombazina branca, nem debaixo da camisa aos quadrados azul e laranja. (...) Artur, o seu melhor amigo, amor, companheiro de escola, de tempos livres, de correrias desenfreadas pelo parque do cerejal e mergulhos no Ceira para as fracassadas tentativas de apanhar peixes com garfos. (...) Alice tem uma colecção de pedrinhas que Artur lhe vai dando. Todas as semanas encontra pedras especiais nos diversos sítios que percorre, pedras de rio, de floresta, pedras roubadas em obras, pedras com manchas rosa que fazem caras de palhaços se olharmos bem. Pedras de xisto e mármore, mais valiosas do que milhões de diamantes, pois são apanhadas para Alice. (...) Corria tudo às mil maravilhas, não fosse o súbito desaparecimento de Joaquina que irá dar o mote a uma nova aventura e à descoberta de novas amizades.