A Noite Submarina: poesia, natureza e espiritualidade em Albano Martins
António Fournier
Sujeito a confirmação por parte da editora
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Detalhes do Produto
- Editora: Colibri
- Categorias:
- Ano: 2018
- ISBN: 9789896897635
Sinopse
Podemos falar, por conseguinte, de uma poesia matérica, radicada na compreensão do vivido. Uma poesia feita não de emoções, mas de experiência, que fala do nosso estar poeticamente no mundo, segundo a lição de Hölderlin. Recusando qualquer dimensão transcendental ou metafísica, os poemas de Albano Martins são um hino à materialidade, um canto do corpo, das coisas, da natureza: fontes, algas, pássaros, árvores, uma cosmogonia vital. Duas cores predominam nesta poética do sensível, para as quais aludem, de resto, os títulos dos livros a Margem do Azul e Escrito a Vermelho: por um lado, o azul onírico, território das aspirações humanas (...). Por outro lado, o encarnado ou vermelho-sangue, seiva vital dos homens (...). Atravessado por estas duas extremidades do espectro cromático, está o Homem, na sua dupla dimensão espiritual e animal, qual antena vegetal a ligar o Cosmos a valores universais como o amor, a ternura, a lealdade, o erotismo. Poesia, portanto, como testemunho de vida e testamento espiritual.
Desde sempre caracterizada por uma limpidez ática e solar, valorizando o prazer sensorial e o erotismo, a poesia albaniana é atravessada por uma felicidade perlocutória à qual o leitor não consegue ficar indiferente. Essencial e expressivo como poucos, o ideolecto albaniano aspira sempre a coagular numa única pupila de um verso a pulsão irrefreável de um corpo vivo como cintilação da beleza dessa mesma vida.
Daí resulta uma poesia-bonsai alimentada por uma autêntica oficina vegetal que produz fulgurantes metáforas botânicas, quer como expressão de uma clara predilecção pelo natural (e espontâneo) em detrimento do cultural (e retórico), quer como aspiração a uma relação simbiótica entre Homem e Natureza. Autêntico hino à matéria do tempo de que somos feitos, a poesia de Albano Martins é um canto simultaneamente anacrónico e actual, denso e leve, erótico e espiritual, eufórico e elegíaco, singelo e requintado daquele que é o poeta cósmico-erótico, por excelência, de toda a poesia portuguesa contemporânea.
António Fournier