«Os senhores romancistas não perdoam às mulheres; fazem-nas responsáveis por tudo — como se não pagássemos caro a felicidade que fruímos!»
Francisco Teodoro é um homem ambicioso à frente de um florescente negócio de exportação de café. Na busca de protagonizar um quadro social ideal, casa com a bela Camila, jovem de origens humildes, para com ela constituir família. Com o passar dos anos, a paixão de Teodoro continuará a ser o dinheiro; a de Camila, o dr. Gervásio. Acomodada ao conforto que o marido lhe providencia, mas totalmente alheia aos negócios do mesmo, é apanhada de surpresa, quando, num revés do destino, a fortuna se eclipsa.
Considerado um dos romances brasileiros mais emblemáticos do final do século XIX, A Falência expõe a decadência económica e moral de uma burguesia urbana hipócrita, dominada pelo machismo e incapaz de superar a sua dependência das estruturas esclavagistas que acabavam de ser abolidas. Uma obra lúcida e sagaz de Júlia Lopes de Almeida, ícone do modernismo brasileiro.
Introdução de Alva Martinez Teixeiro
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Júlia Lopes de Almeida
JÚLIA LOPES DE ALMEIDA nasceu no Rio de Janeiro, a 24 de setembro de 1862, numa família de abastados imigrantes portugueses. Importante escritora, ativista pelo abolicionismo e cronista brasileira, teve uma educação liberal e esmerada, fator relevante para a publicação dos seus primeiros textos, aos 19 anos, e, aos 22, para o início da sua parceria com o jornal carioca O País, que duraria mais de trinta anos. Em 1886, mudou-se para Lisboa e, no ano seguinte, já casada com o poeta português e diretor da revista A Semana Ilustrada Filinto Elísio, publicou o seu primeiro livro de contos, Traços e Iluminuras. Colaborou intensamente com diversas publicações periódicas sobre temas políticos e sociais, como a abolição da escravatura e os direitos civis, e, depois do seu regresso ao Brasil, para São Paulo, em 1889, publicou o seu primeiro romance, Memórias de Marta. Ao longo dos seguintes, Júlia Lopes de Almeida publicará alguns dos seus mais conhecidos romances, entre eles, A Falência. Editado em 1901, trata-se de um romance realista-naturalista ambientado no final do século XIX, com a crise financeira, a desigualdade no tratamento das mulheres e o adultério como pano de fundo. Nos primeiros anos do início do século, o casal mudou-se para uma casa no Rio de Janeiro, conhecida como Salão Verde, um espaço frequentado por intelectuais cujas conhecidas tertúlias eram organizadas e dirigidas por Júlia. Apesar de ter sido uma das impulsionadoras da criação da Academia de Letras Brasileira, viu, por ser mulher, o seu nome preterido da lista de membros-fundadores, em favor do marido. Em 1925, a família cruza novamente o Atlântico para se fixar em Paris. De regresso ao Brasil, Maria Júlia Lopes de Almeida, um dos nomes mais importantes do modernismo brasileiro, morre na sua cidade-natal, vítima de malária, a 30 de maio de 1934.
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