Fui recolhendo, ao longo de 16 anos, cartas, diários, testemunhos, maquetas de jogos e armadilhas de Acácio Nobre (1869-1968), um construtor de puzzles geométricos visionário no século XIX que uma ditadura silenciou no século XX e (quase) eliminou de uma História que ainda assim influenciou, de forma subtil e anónima, introduzindo uma marca indelével e inevitável nos séculos vindouros, como o nosso.
Acreditando que a obra literária pode desempenhar um papel crucial na reavaliação dos tempos que correm de uma forma que estará para sempre vedada à História, à Academia e à estratégia política, venho por este meio partilhar convosco a Coleção Privada de Acácio Nobre, na esperança de encontrar, mas também de dispersar, a sua obra, as suas ideias e os seus manifestos, procurando contribuir assim para a tarefa inglória de lutar pelo direito ao impossível, uma mastodôntica missão num país como este, que, por acidente geográfico, é o meu, e também foi, ainda que por breves momentos e de forma ingrata, o de Acácio Nobre.
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Patrícia Portela
Patrícia Portela nasceu em 1974 durante o Golpe das Caldas. Autora de performances e obras literárias, tem um mestrado em Cenografia pela Faculdade de Utrecht, nos Países Baixos, e pela Central Saint Martins College of Art, em Londres, e um mestrado em Filosofia Contemporânea pelo Instituto Internacional de Filosofia de Leuven, na Bélgica.
Estudou Cinema, na European Film College, e Dança Contemporânea, no estúdio de Rui Horta e no c.e.m. – centro em movimento. Já viveu em três continentes, em lugares como Macau, Utrecht, Helsínquia, Ebeltoft, Berlim, Madrid, Iowa, Antuérpia (durante quase duas décadas), Viseu e Lisboa. Entre 1994 e 2000, trabalhou como cenógrafa e figurinista para companhias independentes como Projecto Teatral, Teatro da Garagem, O Olho ou Teatro Meridional, e em várias curtas-metragens no cinema português de Luís Alvarães, Fátima Ribeiro ou Miguel Gomes. Fundou O Resto em 1998 e a Prado em 2003, e é hoje reconhecida «pela peculiaridade da sua obra», que circula pelo mundo, tendo recebido por ela vários prémios, dos quais destaca o Prémio Madalena Azeredo de Perdigão/Fundação Calouste Gulbenkian para os espetáculos Flatland I (2004) e Wasteband (menção honrosa em 2003); o Prémio Teatro na Década para T5, em 1999 (grupo O Resto); os Prémios Reposição com Operação Cardume Rosa, em 1998 (grupo O Resto), e com Wasteband, em 2003; ou o Prémio Revelação pela Associação de Críticos de Teatro, em 1994. Foi finalista do Primeiro Prémio Multimédia Sonae/MNACC em 2015 com a instalação Parasomnia, com a qual tem percorrido o mundo, tendo a última paragem sido, já em 2025, em Bueño, nas Astúrias, a convite da Embaixada Portuguesa em Espanha e da Fundación EDP/MAAT. Como escritora, foi finalista do Prémio de Grande Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), em 2013, com Banquete, e, mais recentemente, finalista do Prémio Correntes d’Escritas com Hífen, um romance que Miguel Real, do Jornal de Letras, considerou «histórico» e que ganhou o Prémio Ciranda 2022. É autora de vários romances e novelas aclamados pela crítica, cronista no Jornal de Letras desde 2017 e na Antena 1 em 2019/20.
Como dinamizadora de espaços de partilha e aprendizagem, fundou o Cem Dramaturgias (2001) e concebeu em parceria com Dora Carvalho e Sandra Caldeira o Programa Avançado de Criação em Artes Performativas (PACAP) para a Forum Dança, tendo dirigido a sua primeira edição em 2015. Leciona com regularidade na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa e noutros centros culturais e artísticos
Foi diretora artística do Teatro Viriato, em Viseu, durante a pandemia, nunca fechando as suas portas (2020-2022), e da Rua das Gaivotas 6, em Lisboa (2023-2024), um espaço do Teatro Praga para acolhimento de artistas emergentes, onde desenvolveu um projeto de intersecção entre arte experimental e comunidades locais de bairro.
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