“Ao todo, o percurso soma mais de 1300 quilómetros, a maior parte dele montanhoso. O fotógrafo Pedro Letria percorreu-o entre 1996 e 1997, tendo por objectivo palmilhar – e fixar em sais de prata – a fronteira sinuosa entre Portugal e Espanha. Viajou no sentido sul-norte e, por isso, “teve sempre o sol pelas costas” como sublinha John Stopford, no prefácio do livro Terraformada. Fotografou em diferentes horas do dia paisagens inauditas (e aqui o adjectivo não se refere às imagens de cartão postal, mas sim aos lugares que não imaginamos e que, por isso, irrompem com alguma estranheza ou espanto diante dos nossos olhos). Começamos no Algarve, com a imagem de uma costa rochosa algures em Vila Real de Santo António. A luz é rósea, julgá-la-íamos irreal ou mesmo extra-terrena, não fossem as coordenadas geográficas, determinadas por um aparelho GPS, que aparecem no canto inferior de cada página. Seguimos este viajante solitário ao longo de mais de 80 páginas – tão poucas se comparadas ao caminho que fica para trás –, mais precisamente até à Ponta do Cabedelo, em Caminha. O rio Minho devolve-nos a formidável luz rósea, como se dissesse que a viagem chega ao seu fim.”
Andreia Azevedo Soares, Público, 11 de Setembro de 2004.