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- Editora: Abysmo
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- Ano: 2016
- ISBN: 9789898688415
Sinopse
O José Manuel Simões, como muitos de nós, saiu do irrespirável Portugal desse tempo logo
que pôde, mas, ao contrário de quase todos, não voltou. Tinha tido em Lisboa uma presença
fundamental - e fundadora - no que o Gelo pudesse ter representado e continuou a tê-la em
Paris onde o que o Gelo veio a representar alcançou uma expressão cultural que em Portugal
não poderia ter tido. A história do Gelo é também uma história de exílios criativos: dos
pintores do KWY, de poetas como o Manuel de Castro e o Herberto Helder, que permaneceram
exilados mesmo quando regressaram, e do José Manuel Simões, que deu sempre mais do que
recebeu, discretamente, intransigentemente, como quem descrê. Teve várias acções
importantes em Paris em benefício da cultura portuguesa. Por exemplo, em colaboração com o
Fernando Gil, um projecto ao tempo pioneiro sobre Fernando Pessoa que resultou em artigos
publicados na imprensa e em programas na rádio que deram atenção à poesia portuguesa.
Também teve uma acção política importante e, potencialmente, perigosa, sobretudo em
colaboração com os exilados espanhóis associados ao Ruedo Iberico. Em Portugal, ainda
adolescente, tinha sido preso e interrogado pela PIDE. Não falou, resistiu aos maus
tratos, saiu da cadeia mais livre do que tinha entrado. A não ter de provar nada a
ninguém. E assim continuou até ao fim. Foi o mais puro de todos nós.
Foi a ele que o Manuel de Castro dedicou o seu primeiro livro,
Paralelo W. E.
, se me lembro correctamente, foi ele quem sugeriu ao Herberto Helder o título para o seu
primeiro grande poema,
O Amor em Visita
. A escolha desse título é, em si próprio, um brilhante exercício de crítica literária.
Com referência implícita à obra de Alfred Jarry,
LAmour en Visites
, sugere a transformação dessas plurais visitas de picaresca demanda adolescente na
visitação carnalmente mística de um perene amor para sempre renovado e desde sempre
inalcançado no poema de Herberto Helder.