O que se espera dum livro sobre doença bipolar que se reclama de guia para os doentes e as famílias?
Que descreva esta perturbação de uma forma clara e explícita, que simplifique as suas bases biológicas, sem ser reducionista, que aprofunde as estratégias de tratamento, enfim, que reúna o conhecimento actual e o consiga transmitir aos não especialistas. Quem se propõe escrever tal texto corre vários riscos - o mais óbvio é de não ser compreendido ou bem aceite pelo leitor e a consequência imediata pode ser o abandono do texto; mas o risco mais sério seria deixar o leitor confuso sobre a doença e pior informado do que no início da leitura. A ausência de informação voluntária e a desinformação teriam, no final, o mesmo efeito - transformar o leitor, se próximo ou familiar do doente, num inimigo do tratamento e num divulgador, em segunda mão, de preconceitos em relação à doença bipolar. E se o leitor for o próprio doente, então a situação pode ser extremamente prejudicial para a sua saúde. Mais lhe teria valido que ninguém se lembrasse de escrever tal texto.
Não é o caso deste livro. A sua escrita é clara, concisa e rigorosa e a sua leitura esclarecedora, formativa e útil.