
Detalhes do Produto
- Editora: Assírio & Alvim
- Coleção: Gato Maltês
- Categorias:
- Ano: 2011
- ISBN: 9789723705775
- Número de páginas: 80
- Edição: 3.ª Edição
- Capa: Brochada
Sinopse
«O Nariz, um conto do absurdo, claro, mas de um absurdo de dois bicos:
age sobre o trivial, mas também o trivial age sobre ele, tornando-o estranhamente
verosímil. Portanto, nada de fantasias! Podemos fartar-nos de
estabelecer paralelos com os antecedentes românticos em que se perdia
magicamente qualquer coisa: ora o coração, ora a sombra, ou então era o
nariz que cresciamas sentimos sempre uma diferença nítida: em Gógol
não encontramos o ambiente de enigma: a suposição dos efeitos de magia
como causa do acontecimento é rejeitada de imediato (a carta da vítima
com as acusações balbuciantes de bruxaria, em que nem ele próprio acredita,
e a carta de resposta da acusada que nem sequer percebeu as insinuações e que por isso lhes dá
uma interpretação muito prosaica e, como tal, cómica). Nada de magias! Esta, aliás, é uma das particularidades
da escrita russa, a partir de Púchkin: por mais misticismos, crenças, superstições, por
mais almas que andem no ar, o escritor tem sempre os pés assentes na terra e alimenta dela a sua inspiração.
Iúri Mann (O Sistema Poético de Gógol, Moscovo, 1978) escreve que as ligações genéticas dos
contos de Gógol com a literatura do romantismo (Hofmann, Chamisso) já estão suficientemente
estudadas pela crítica. O que faltava era descobrir a mudança fundamental que esta tradição sofreu
em Gógol. O motivo da perda pelo herói de uma parte do seu Eu, seja corporal, seja espiritual, estava
ligado, na tradição romântica, com a acção de forças sobrenaturais. Em O Nariz não existe portador
nem personificação da força não-real. Não se descortina culpado e, pelos vistos, não existe.
Existe apenas facto. E também a atitude das personagens para com o facto. Não há culpado, não
há explicação do fenómeno. O leitor espera involuntariamente qualquer esclarecimento mas o
narrador afasta-se, põe a máscara do censor e prega ao leitor uma partida (não percebo absolutamente
nada, diz) e, ainda por cima, declara que acontecem coisas destas no mundoraramente,
mas acontecem; depois sai de cena, deixando o leitor de mãos a abanar
»
Nina Guerra e Filipe Guerra